quarta-feira, 6 de julho de 2011

Hotspots: como preservar o que não conhecemos

A revista FAPESP online de 06 de julho de 2011 publicou uma reportagem divulgando um estudo que será publicado no PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) sobre áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade, os hotspots, e sua efetividade em proteger espécies em risco de extinção ainda desconhecidas pela ciência.

O conceito de hotspots ou “áreas-quentes” para preservação da biodiversidade foi criado pelo ecólogo inglês Norman Myers, em 1988, com o intuito de resolver um dos maiores dilemas conservacionistas da época: quais as áreas são mais importantes para preservar a biodiversidade na Terra? Atualmente, há 34 áreas de grande riqueza biológica identificadas em todo o mundo.

Até ai tudo bem. Mas o que me chama a atenção na reportagem da revista FAPESP é a relação entre a efetividade dessas áreas em conservar uma biodiversidade ainda desconhecida e como parte da sociedade se contenta apenas com isso.

Fato é que a diversidade planetária está sendo perdida antes mesmo de ser conhecida, a chamada Crise da Biodiversidade, e este problema não será resolvido a menos que as autoridades invistam em formação de profissional capacitado, os taxonomistas, em atividades de coleta e em infra-estrutura de coleções científicas, além de profissionais qualificados para gerir essas informações biológicas.

O advento de um programa de computador que prevê a diversidade ainda não conhecida de espécies, coisa que os cientistas fazem há décadas, e o fato de os resultados coincidirem com as áreas que hoje recebem os maiores investimentos financeiros não é o suficiente para redimir a espécie humana do desmatamento e destruição dos ambientes naturais.

Apenas 1,4 % das áreas florestais do planeta são consideradas hostpots e a Amazônia brasileira, a maior e mais exuberante floresta tropical do mundo, não se enquadra nesta lista. A Floresta Atlântica e o Cerrado sim, mas destes há apenas 5% de áreas remanescentes.

Segundo um dos autores da pesquisa, David Roberts, da Durrell Institute of Conservation and Ecology na Universidade de Kent, Reino Unido, “É um grande alívio saber que os locais em que mais investimos recursos são os mesmos que abrigam a maioria das espécies ainda não descobertas”.

Isso não é suficiente, os investimentos apenas certificam a sociedade que as espécies ainda desconhecidas pela ciência permanecerão no limbo. O ideal seria que os investimentos fossem direcionados, além da preservação dessas áreas, para o conhecimento da biodiversidade, o estabelecimento destas espécies como entidades reais, o que se dá após intervenção de um especialista e sua formal descrição em uma revista científica, e o estabelecimento de novas áreas para a conservação. Mas, pelos rumos da nova legislação ambiental brasileira, a Amazônia continuará não sendo incluída na listagem de áreas prioritárias, seu desmatamento além de crescente será agora legal. E a sociedade continua torcendo para que um dia a Conservation International inclua nossa maior riqueza como um hotspot, e assim todos os nossos problemas estarão resolvidos. Isso é lamentável, infelizmente.