terça-feira, 29 de setembro de 2009

Acontece ....

Os pós-graduandos do programa de Entomologia da Universidade de São Paulo – campus Ribeirão Preto têm realizado, nos últimos sete anos, o Curso de Verão em Entomologia. Desde a sua primeira edição, em 2003, o curso tem sido voltado aos alunos de graduação de diferentes áreas das ciências biológicas, agrárias e áreas afins.

Em 2010, acontecerá a 8ª edição do Curso de Verão em Entomologia, com palestras e mini-cursos de pós-graduandos do programa e de pesquisadores convidados. Pelas sugestões de participantes das edições anteriores, nesta edição os mini-cursos terão um maior conteúdo prático e haverá um espaço para a divulgação dos trabalhos dos alunos participantes em forma de painel.




Maiores informações no site:

http://sites.google.com/site/veraoentomologia/

domingo, 20 de setembro de 2009

Biodiversidade: do reconhecimento à manutenção de coleções biológicas!

A biodiversidade que conhecemos hoje representa apenas uma pequena parcela da diversidade pretérita. Mesmo assim, ainda não fazemos idéia do número de organismos que habita a Terra. Estima-se que devam existir de 10 a 100 milhões de espécies, dos quais foram descritas cerca de 2 milhões até hoje, uma ínfima fração de toda a diversidade estimada, e continuam descobrindo diariamente espécies novas em todas as partes do mundo. O simples confronto desses dois números fornece a dimensão do desafio lançado aos pesquisadores que tratam de mapear a biodiversidade.

O estudo da biodiversidade, termo que carrega uma noção eminentemente histórica e evolutiva, trata de reconhecer as espécies (animais e plantas) de uma dada região, descrevê-las e classificá-las, e cabe aos museus de história natural armazenar, preservar e ordenar o acervo de espécimes, representando a diversidade biológica de organismos.

As coleções representam uma herança cultural, um testemunho da rica história do descobrimento e da expansão da sociedade em seu território nacional. É nas coleções biológicas que encontramos, além de representantes da fauna vivente, representantes da fauna já extinta, que habitou um dia os ecossistemas alterados de forma irreversível pela ação antrópica e causas naturais. Neste sentido, as coleções constituem uma base de dados essencial para os estudos de caracterização e impacto ambiental e sua importância é inegável.


A atividade museológica inicia-se muito antes de o material ser depositado na coleção. A etapa inicial consiste na escolha da área a ser amostrada, geralmente por serem desconhecidas zoologicamente e botanicamente, por conterem diversidade biológica significativa, ou por se suspeitar que abriguem espécies que permitam esclarecer algum problema biológico relevante. O pesquisador, ainda em campo, preocupa-se em etiquetar detalhadamente o material (dados de procedência, localidade, coordenadas geográficas, data e métodos de coleta, coletor). Além disso, há uma preocupação em acondicionar esse material de forma que os processos de curadoria que se seguem na instituição depositária (museu) possam ser continuados de forma a maximizar o aproveitamento desse material ao longo de centenas de anos.

Finalizada essa etapa o material é então estudado detalhadamente por um taxonomista – pesquisador responsável por descrevê-lo e classificá-lo conforme a literatura específica de cada grupo, atribuindo um nome cientifico apropriado. É nessa etapa que o especialista reconhece a existência de espécies novas e inicia o tombamento do material, ou seja, deposita esse material na coleção científica que julgar pertinente. Se a quantidade de material coletado for expressiva, o tombamento pode ocorrer por meio de lotes, caso contrário o material é tombado individualmente. A etapa de identificação é dependente de coleções. É por meio de comparações com o material já tombado que o pesquisador consegue avaliar se a espécie em questão é nova ou uma espécie conhecida. Além disso, não existem espécies em demasia nas coleções, já que qualquer material excedente é sempre um excelente material de troca entre instituições, aumentando o acervo e o valor científico de uma coleção.

A divulgação das novas espécies encontradas e de novas procedências para as já conhecidas se dá por meio de publicações científicas. Só a partir desse momento é que o nome sugerido pelo pesquisador tem validade e este deve vir acompanhado da instituição depositária do material tipo. A série tipo de determinada espécie é constituída sempre pelo holótipo – espécime ligado indefinidamente ao nome proposto para a espécie. Em casos em que há mais de um material analisado, os demais são designados como parátipos. A idéia é que, ao longo do tempo, a coleção englobe espécimes provenientes de diversas localidades dentro de sua área de escopo.

Entretanto, limitadas como são, as coleções biológicas representam a fonte mais importante de informações sobre quantas espécies existem, como são essas espécies e onde existem. Sem esse tipo de dados, estaríamos ainda na idade da pedra do estudo da Biodiversidade.
Fotos: Chico Felipe (INPA)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Dica....

Um livro interessante:

Description

The evolutionary history of life includes two primary components: phylogeny and timescale. Phylogeny refers to the branching order (relationships) of species or other taxa within a group and is crucial for understanding the inheritance of traits and for erecting classifications. However, a timescale is equally important because it provides a way to compare phylogeny directly with the evolution of other organisms and with planetary history such as geology, climate, extraterrestrial impacts, and other features.

The Timetree of Life is the first reference book to synthesize the wealth of information relating to the temporal component of phylogenetic trees. In the past, biologists have relied exclusively upon the fossil record to infer an evolutionary timescale. However, recent revolutionary advances in molecular biology have made it possible to not only estimate the relationships of many groups of organisms, but also to estimate their times of divergence with molecular clocks.


Link: http://www.timetree.org/book.php

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Acontece....

Curso de extensão no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP): Tópicos em Entomologia
16/setembro a 21/outubro/2009

Esta é a segunda edição de um curso que foi idealizado e será ministrado por estudantes de pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP). O seu objetivo é apresentar a estudantes de graduação e professores de biologia, principalmente, a grande diversidade de formas e hábitos dos insetos, abordar suas características gerais, principais grupos taxonômicos e discutir algumas de suas particularidades evolutivas, morfológicas, ecológicas e reprodutivas.



Informações no site:

http://sites.google.com/site/cursodeextensaoavidadosinsetos/

Os museus e as coleções didáticas!

Ainda que os métodos de coletas sejam relativamente simples – essa é uma questão a ser abordada em uma próxima postagem – e boa parte do material necessário possa ser produzido manualmente com material de fácil aquisição, as coleções didáticas são negligenciadas e deixam de ser preparadas e utilizadas em sala de aulas de escolas e universidades, muitas vezes por falta de informação técnica, de práticas de curadoria e de alguns cuidados básicos.

Os procedimentos de coleta de material biológico e sua posterior conservação, embora passem despercebidos por grande parte da prática científica atual, são de suma importância não apenas em trabalhos de cunho taxonômico e sistemático, mas também em Ecologia, Etologia, Fisiologia e como ferramenta indispensável ao ensino de Ciências.

A diferença principal entre coleções didáticas e científicas é o público-alvo. Coleções didáticas são produzidas com o intuito de mostrar aos alunos parte da diversidade conhecida e geralmente envolve espécimes grandes, vistosos, coloridos, de várias ordens e famílias. De modo geral, não é dada muita atenção à etiquetagem e procedência do material e o acondicionamento se dá mais como uma disposição adequada ao espaço disponível (p.ex. uma gaveta ou caixa) que de acordo com uma organização sistemática, ou seja, grupos evolutivamente relacionados posicionados próximos em um mesmo local. Mas quando essas coleções são elaboradas seguindo-se técnicas de coleta, montagem e preservação, podem sim ser utilizadas para fins científicos, como fonte importante de informação.

O uso de coleções didáticas deveria ser uma prática disseminada nas escolas, uma vez que permite, além de uma aproximação com o mundo natural, observar, registrar, interpretar a natureza e contribuir para preservá-la. Além disso, a noção de evolução das formas vivas, de que as espécies mudam com o tempo tal modo que seus descendentes se tornam novas espécies é facilmente compreendida quando se tem em mente a infinidade de formas e as características compartilhadas por cada uma delas. E não há nada como uma boa coleção – didática ou científica – para instigar nos alunos reflexões a respeito de modificações (morfológicas nesse caso) ao longo do tempo.

Ao se utilizar coleções na prática didática é possível também discutir com os alunos questões referentes à filosofia e história das Ciências, que também vêem sendo abandonadas nas salas de aula, uma vez que renomados cientistas (que os alunos “conhecem” devido a suas teorias) foram grandes naturalistas e colecionadores, como Lineu (1707-1778), Buffon (1707-1788), Lamarck (1744-1829), Cuvier (1769-1832), Darwin (1809-1882), Fritz Müller (1821-1897), Wallace (1823-1913), entre outros. Ao relatar aos alunos um pouco de história e da maneira como as teorias foram sendo desenvolvidas, os professores podem mostrar como a Ciência é dinâmica, como teorias derivam de observações e do entendimento da natureza, e como os resultados de trabalho de um pesquisador são a base e o ponto de partida para outros, mostrando que nenhuma teoria é desenvolvida de forma repentina e solitária, que a ciência é uma atividade de colaboração.

Já as coleções científicas são organizadas de forma Sistemática. Em alguns casos os detalhes não são visualizados a olho nu e nem sempre os espécimes são vistosos e coloridos. Espécimes de alguns grupos são bem pequenos e necessitam de recursos adicionais para serem montados e acondicionados. Uma diferença importante é que este tipo de coleção sempre porta informações de procedência do material, localidade, data, coletor, determinador, métodos de coleta e coordenadas geográficas, visando sempre a repetibilidade da experimentação.

Museus são os depositários de uma rica fonte de informações sobre os mais diversos grupos, e os trabalhos em Taxonomia e Sistemática encontram um terreno fértil de produção científica nessas instituições, onde se tem à mão uma variedade biológica que serve de suporte aos mais variados estudos, desde a taxonomia ao nível alfa (descrição de espécies) até o levantamento de hipóteses de relacionamento entre os táxons e discussões sobre a evolução dos grupos. Afora isso, para qualquer trabalho que utilize espécies como modelos biológicos, é recomendável que se depositem exemplares usados nos seus experimentos em museus, a fim de que outros pesquisadores, interessados em repetir as experimentações, possam confirmar se os modelos em questão são de fato aqueles referidos inicialmente.

Os museus, na qualidade de instituição mantenedora da representação da diversidade biológica, colocam-se na linha de frente na questão da comunicação científica entre pesquisadores (principalmente em relação ao empréstimo de material entre instituições) e na questão da divulgação dos resultados para a sociedade, cabendo a essas instituições, por meio de exposições, fornecer a todos os segmentos da sociedade informação de qualidade, expondo os resultados científicos de forma clara e atraente. E cabe aos professores, até mesmo das escolas que têm coleções, acompanhar os alunos em visitas a essas exposições. Assim, o papel dos museus como instituições depositárias de espécimes, os trabalhos de curadoria ali desenvolvidos, e a utilização de coleções didáticas em sala de aula, mostram-se de fundamental importância como fonte depositária e provedora de informação biológica e histórica.


Sugestões de leitura:

Durrell, G. & Durrell, L. 1996. O Naturalista Amador. Um guia prático ao mundo da natureza. Editora Martins Fontes. 314pp.